Cinema

Destruição Final e a ficção catastrófica em tempos de pandemia

Destruição Final: O último refúgio junta filme-catástrofe, ufanismo estadunidense, moral cristã e Gerard Butler, todas características típicas do cinema pipoca. Por meio da jornada heróica ante a tragédia planetária, o filme articula todos os clichês que gostamos e termina numa sensível metaficção.

Porém, fico com a impressão de que o “encanto da catástrofe”, a fantasia entre a barbárie e a caridade, se perde um tanto perante a tragédia que vivenciamos atualmente. Se resistir às explosões é ficção exagerada, algumas relações – centrais para o enredo do filme – também podem passar a soar como tal, ainda que nos emocionem.

Vale uma reflexão a respeito da recepção das obras pelo público ao compará-las com a catástrofe que habita suas memórias recentes, os noticiários e o cotidiano vivido. Agora tais questões ultrapassam os sentidos construídos por artifícios ficcionais e são contraditos pelo real.

Dito isto, quais serão os impactos da pandemia sobre a indústria cultural? Ainda que compreenda as nuances sensíveis e os clichês que se inscrevem no presente, penso se deveríamos fazê-los do mesmo modo que antes, como se agora não compreendêssemos um pouco mais acerca de sobreviver.

Ric Roman Waugh não solucionou o desafio, mas aponta um caminho na voz de uma criança: “Meu amigo Teddy disse que a vida passa como um filme quando a gente morre. Acho que seria melhor se fosse enquanto estamos vivos. A gente veria as lembranças boas e ficaria feliz”. Poético, né?

Para além das reflexões, o filme cumpre seu papel e entretém. Pra quem curte, um bom filme.

Destruição Final: O último refúgio (EUA: Greenland, 2020) está disponível na plataforma Amazon Prime Video.

Rennan Cantuária é sociólogo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, pós-graduando em Estudos Linguísticos e Literários pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro e professor.