BBB e a crueldade cotidiana

No BBB, as agressões contra Lucas Penteado articulam uma série de violências que estruturam nossa sociedade, com destaque para o racismo, o capacitismo e o punitivismo. Nesta lógica, o indivíduo que não se adequa às normas e aos padrões da sociedade deve ser punido e excluído.

A situação torna-se explícita diante da contradição de gente que se mostra crítica aos padrões socialmente impostos, mas situações semelhantes ocorrem na rua, na escola, no trabalho, na família e em outros círculos sociais a todo o tempo.

O punitivismo não opera contra o crime, mas determina quem será o criminoso e o desumaniza. Assim, aqueles que não seguem as regras, os fora dos padrões, são tachados de “loucos”, “criminosos”, não servem e, por isso, são desumanizados, condenados à exclusão social, à tortura e à morte.

Desta maneira, o punitivismo também reforça o lugar do justiceiro e a lógica do justiçamento, isto é, do se fazer justiça pelas próprias mãos. Como se não fosse o bastante, ele também estabelece o detentor do poder naquela relação, reforçando os estigmas de quem “não serve” e os padrões do grupo dominante.

O BBB dá uma amostra de um dos traços mais cruéis que estruturam a cultura ocidental no decorrer da história.

Rennan Cantuária é sociólogo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, pós-graduando em Estudos Linguísticos e Literários pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro e professor.