Tempos difíceis esses das crises em demasia, do muito sobre o prazeroso, dos corpos como mercadoria, da devastação pelo lucro e da grana acima da vida.
Os valores que nos organizam em consumo e quantias não dão conta das subjetividades e das relações sensíveis que resistem em nosso viver.
A literatura tanto sofre quanto confronta perante a realidade. Mesmo convertida em produto para o lucro, ela tem esse estranho poder de transcender aos limites tacanhos da mercadoria.
A arte expõe aquilo que o exame quantitativo e racional não dão conta, aquilo cujo projeto é que, de fato, nós não demos conta.
A literatura não contrapõe a verdade, apenas retira o véu que encobre verdades outras, mesmo óbvias, essas que cotidiano insiste em se nos alienar.
As condições como vivemos, o jeito como o fazemos, o modo como encaramos o mundo e enfrentamos tudo aquilo que nos impede de fazê-lo, tudo plenamente escancarado – e para transformá-lo – em palavramundo.
“A arte existe porque a vida não basta.” — Ferreira Gullar
Rennan Cantuária é sociólogo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, assessor de planejamento na Fundação Municipal de Saúde de Niterói e educador popular.