literatura

As contribuições da literatura em tempos difíceis

Tempos difíceis esses das crises em demasia, do muito sobre o prazeroso, dos corpos como mercadoria, da devastação pelo lucro e da grana acima da vida.

Os valores que nos organizam em consumo e quantias não dão conta das subjetividades e das relações sensíveis que resistem em nosso viver.

A literatura tanto sofre quanto confronta perante a realidade. Mesmo convertida em produto para o lucro, ela tem esse estranho poder de transcender aos limites tacanhos da mercadoria.

A arte expõe aquilo que o exame quantitativo e racional não dão conta, aquilo cujo projeto é que, de fato, nós não demos conta.

A literatura não contrapõe a verdade, apenas retira o véu que encobre verdades outras, mesmo óbvias, essas que cotidiano insiste em se nos alienar.

As condições como vivemos, o jeito como o fazemos, o modo como encaramos o mundo e enfrentamos tudo aquilo que nos impede de fazê-lo, tudo plenamente escancarado – e para transformá-lo – em palavramundo.

“A arte existe porque a vida não basta.” — Ferreira Gullar

Rennan Cantuária é sociólogo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, assessor de planejamento na Fundação Municipal de Saúde de Niterói e educador popular.

Ano novo, meta nova

Meu ritual de ano-novo não foge muito do comum. Nem sempre tem festa (ainda menos em 2020), mas a reflexão sobre o ano que passou, os vários planos de mudança pra vida e a lista de metas a serem alcançadas durante a nova volta em torno do Sol são (quase) certos: quero escrever mais, terminar a pesquisa, manter uma rotina de exercícios, arrumar um emprego, passar no mestrado, tocar cuíca, fazer um mochilão, aprender mandarim e outras coisas mais, não necessariamente nessa ordem.

Se tem algo que fiz sobre 2020 foi refletir criticamente, o que é mesmo fundamental tanto diante de seus brutais desafios como para renovar os, sim, possíveis votos de esperança. Porém, esqueci de um item em especial que toda lista de metas precisa: dar atenção às pequenas coisas que lhe atravessam o dia a dia.

Diferente do que tendemos a pensar, não são os objetivos extraordinários que fazem o nosso ano, são nossas pequenas atitudes e experiências que o constroem diariamente e podem transformá-lo em algo incrível. A mudança em nossa vida é consequência da nossa ação no tempo, enquanto o tempo só desempenha a ação de findá-la aos pouquinhos.

Então os dias passam, as demandas seguem, os perrengues atropelam e, quando vê, já está na segunda semana de janeiro com todas as metas mais atrasadas que 13º de professor no Rio de Janeiro – já caprichado no exagero semântico e de ansiedade renovada. Eu nada cumpri da minha lista de afazeres, exceto agora. Hoje eu esqueci o ano e tirei um tempo das missões estritamente produtivas para fazer algo melhor por mim e para as pessoas que espero que curtam comigo. Hoje sim!

Por isso, apesar do descanso pouco, acordei cedo e iniciei minha primeira meta do ano: escrever mais. Como meus textões quase nunca cabem por aqui (esse tá quase no limite), também criei um espaço pra compartilhar minhas coisas com vocês.

E aí, vamos curtir juntos essa nova translação?


Rennan Cantuária é sociólogo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, pós-graduando em Estudos Linguísticos e Literários pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro e professor.